sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Epiphone Les Paul Special


Essa eu ganhei de "brinde" ao comprar uma Aria semi acústica, em 2004 ou antes. É daquelas ruins, com corpo laminado de folhas de maple e alder. Se tirar um parafuso, o local "esfarela" de tal maneira que não dá mais pra recolocá-lo. Uma piada.
Observe na foto abaixo, da cavidade do captador, o excesso de cola e as camadas da laminação:


Portanto, bonitinha mas ordinária. :)
Poderia jogá-la fora, mas gostei muito do braço de maple, surpreendentemente bem acabado, "gordinho" e com uma bela escala de rosewood/jacarandá (raio de 12"). Ela ficou largada aqui em casa até o ano passado, quando o luthier Cavalheiro, de Blumenau, me avisou que tinha um pouco de mogno disponível. Pedi pra ele fazer um corpo (idêntico ao original) de mogno e colar o braço.
 
O ideal seria antes aumentar a base posterior/trocular, do braço e fazer um encaixe mais profundo, porém ele achou que não havia necessidade. Até o momento, está bem estável e sólido :)
No detalhe da foto, o braço colado:


Obviamente ficou outra guitarra, muito, mas muito superior em timbre e ressonância. O peso final é de 4,2 kilos, portanto, o mogno é bem pesado (a minha LP 81, que ainda tem um top de maple por cima, pesa 4,3kg).
O acabamento, apenas com selador e óleo (limão e peroba). Coloquei os dois captadores originais (início da década de 80) da Aria, com imãs trocados para alnico (II no braço e V na ponte) e sonoridade bem na praia dos PAF, 7,8k.
Como os captadores estavam naturalmente envelhecidos, resolvi deixar as ferragens também com aspecto antigo e foi fácil: lixa (grão no mínimo 400, 600 é o ideal) pra retirar o brilho cromado já equilibra o aspecto "vintage".
Ela ainda ganhou tarraxas Gotoh, nova fiação e potenciômetros e um capacitor Mojotone "Dijon" .022uF.
Ficou melhor do que eu imaginava. Tô surpreso com a sonoridade dela.
Até pensei em refazer o headstock pra apagar o passado "Epiphônico Negro" dessa Special, mas resolvi deixá-lo intacto. :)

(Foto da guitarra em 06/2012, depois de refazer o acabamento - leia o update no final)


PS: O Lucas fez a pergunta óbvia e me toquei que também o óbvio seria aproveitar o novo corpo e transformá-la numa Les Paul Jr. Uma Les Paul Jr. Special, com dois P-90, como essa Gibson:


Mas acontece que o luthier Cavalheiro tinha um outro pedaço de mogno (antigo, de "demolição") e encomendei uma Junior Special - nesse caso, idêntica à Gibson, com braço de mogno, etc (mas acho que com os controles da Jr - não preciso de 4 pots). Atrasou porque tivemos dificuldade pra achar jacarandá pra escala. Mas o luthier Inaldo, de Florianópolis, muito gentilmente me cedeu uma bela peça. Em breve mostro a guitarra aqui.


Update 10/06/2012: Embora gostasse do visual rústico dela, achei que o mogno merecia uma "acendida". E é fácil - o mogno mais comum é esse marron, mas quando tingido de vermelho ou roxo e coberto com verniz, fica lindo. Como resolvi trocar o captador do braço, já que esse humbucker tava soando algo abafado e gordo, aproveitei e fiz o trabalho de embelezar o mogno. Usei corante anilina para madeiras da marca Salisil e da cor "Mogno", que na verdade é roxo. O roxo com o marrom natural do mogno resulta num tom avermelhado muito bonito.

Na posição do braço,adaptei um single (Rosar Fullerton) para que coubesse na moldura de humbucker . Aproveitei e coloquei um Rosar Mojo 13 na ponte - é um captador mais orgânico e natural que o próprio Gibson 57. Troquei ponte/stop tail e molduras para metal enegrecido.
Tone control apenas para o captador single (50's wiring), já que o pot de volume é de 500k.

O visual novo dela tá assim:




Antes que perguntem, para adaptar o single numa moldura de humbucker, recortei um pedaço de escudo de strato velho pra que coubesse por dentro da moldura do humbucker.
A Guitar Fetish vende adaptadores prontos.

DEMO MP3
Nessa demo (antes da troca de captadores em 6/2012) estou usando sempre o captador da ponte (um Gibson 57 Plus modificado). Simulações do Amplitube: na direita, um JTM e na esquerda o Blues Jr com o pedal Moller (saturação). O solo é um Tiny Terror no talo. Como é uma guitarra de mogno com humbuckers, a sonoridade dela lembra a da Gibson SG, então fiz um tema no estilo ACDC/Hard Rock:



segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Guitarra AXL (SRO) Strato



Eu andava lendo várias coisas legais na internet sobre essa empresa californiana relativamente nova e a série "Badwater" me chamou a atenção pelo padrão "relic" de fábrica. Sabia que quase toda a produção é feita no oriente, as "USA" são montadas e envenenadas lá e os reviews invariavelmente positivos, ppte se considerarmos o preço.

Quando vi uma SRO à venda na Barra Music no RJ, por volta de 700 reais, comprei-a num impulso de GAS (Síndrome de Aquisição de Equipamento) do tipo "fiquei cego surdo e mudo" e só voltei à razão depois de ler "sua compra foi efetuada com sucesso" - hahahá :))
No mesmo dia vi no ML essa guitarra por 550 reais. Bem, coisas da vida.
A guitarra é realmente muito legal, padrão strato HSS, corpo de alder um pouco menor e mais fino e com um interessante processo artificial de envelhecimento, desenvolvido pela própria AXL.
Coisas de quem sofre de GAS: quando abri a caixa foi que caiu a ficha: "PUTZ! É uma strato HSS!"

Prá quem leu meu post sobre o "problema das guitarras HSS" sabe que eu tenho várias reservas em relação a essa configuração. Tenho duas HSS e tô de saco cheio delas. Se fosse uma strato padrão, era só trocar o escudo para SSS e beleza, mas o desenho do escudo e as cavidades dessa AXL são diferentes.

Tentei algumas configurações de captadores, mas no fundo eu já sabia que era perda de tempo e teria que enfiar uma mini chave pra colocar o Humbucker num pot de 500 e os singles num de 250.

Semana passada tomei uma decisão: vendê-la! Recolocaria os captadores originais (EMG designed, ou seja, feitos na china) e até os selos originais que havia guardado. Ela praticamente estava zerada...

Num último impulso, pra tentar manter meu status de "nunca ter vendido uma guitarra" (exceto uma Carvin há 20 anos, mas meu irmão que vendeu),  peguei um escudo de strato branco single layer, recortei grosseiramente com uma tesoura de placa de metal, lixei com a Dremel pra fazer as curvas, reposicionei o corte da chave de 5 posições e depois, a parte mais difícil: transformar um plástico branco num que ficasse adequado para o "visual" dessa AXL. Tentei alguns truques, vários tipos de tingimento e finalmente consegui com uma mistura de anilina de madeira, café, mostarda e uísque (não me lembro as medidas!!).


Acabou dando certo! :) Gostei do resultado final, me livrei do botão próximo ao captador da ponte e aproveitei que tava desmontada e troquei o bloco da ponte por um mais pesado (o original é muito leve). Pots de 250k e capacitor .047uf, exatamente como uma boa strato!
Coloquei 3 excelentes singles Sérgio Rosar Fullerton (semelhantes aos Fender CS 54) e agora ela tá um brinco de ergonomia (pra mim). Gostosa de tocar, timbre de strato ligeiramente mais macio, mas bem ressonante, com twang e tudo de direito.
Mais uma que fica por aqui... :)



Demo: Solo com o Sérgio Rosar Fullerton do braço (Amplitube estéreo: Fender Pro Jr e Tiny Terror)

domingo, 7 de agosto de 2011

Update da Cort KX Custom - Mistério resolvido!

Agora ela tá assim:
Ao retirar o verniz, descobri que a camada de maple era bem maior (e a de mogno menor) do que eu ingenuamente supunha...
Link para a aventura: clique aqui

sábado, 6 de agosto de 2011

Captadores Parte II: IMÃS

(Não leu a Parte I - Conceitos Básicos? Clique aqui)

Os magnetos, ou imãs, são o coração do captador e suas características e materiais determinam grande parte da sonoridade deste. Quatro tipos de imãs industriais são mais comumente usados (em ordem crescente de potência): Alnico, Ferrite, Samarium Cobalt e Neodymium. Todos são bem resistentes ao calor e corrosão.

1) - ALNICO. É uma liga formada por Alumínio, Níquel e Cobalto ( e Ferro). O Alnico foi o primeiro tipo de liga magnética desenvolvida, portanto é o mais antigo da família dos magnetos. Foi desenvolvido para uso comercial por volta de 1940 e é composto por porcentagens específicas (mas que podem variar um pouco entre os produtores) de Alumínio, Níquel, Cobalto e Ferro (Ex: AlNiCo V: 15%Ni, 25%Co, 9%Al, e 48%Fe). A combinação dos componentes pode variar, gerando ligas de Alnico de diferentes potências, que são numeradas em algarismos romanos, com ordem crescente de potência: II, III, IV, V, etc. Ainda não encontrei uma informação exata, mas me parece que o Alnico III é mais fraco que o II. Os mais usados são o II e o V.
Todos os captadores de 1940 até início de 1960, com raras exceções, usavam ALNICO. Seu "timbre" é mais macio, ou pelo menos, sua resposta ao ataque da nota é mais natural, além de refletir bem as ressonâncias das cordas e madeiras.
O Alnico II, por ser mais fraco, tem menos ataque e mais médios que o V. Esse, por sua vez, apresenta graves e agudos mais definidos.


2) Ferrite (ou Cerâmico) - Strontium Ferrite - O imã de Ferrite é manufaturado desde 1954 e nasceu como uma alternativa de baixo custo para o Alnico. Resulta da combinação de Estrôncio e Ferro, inicialmente em pó, depois prensado e aquecido a altas temperaturas, adquirindo um aspecto "cerâmico".
Devido a sua estrutura, nos captadores é usado apenas em forma de barras.
O Ferrite soa mais agudo, seco, com mais ataque e realça menos as ressonâncias que o Alnico.


3) Samarium Cobalt - Assim como o Neodymium, é formado por minerais raros (Rare Earth Magnets) e é bem mais potente que o Alnico ou Ferrite. Usado em alguns captadores, como os Fender SCN (Samarium Cobalt Noiseless).

4) Neodymium - Magnetos de extrema potência, mas atualmente usados mais em alto-falantes

Essas ligas são magnetizadas em máquinas específicas através de pulsos eletromagnéticos. Por curiosidade, o Neodymium é tão potente que ele próprio pode magnetizar/desmagnetizar o Alnico.
A maioria dos produtores de captadores magnetiza o Alnico somente após o captador montado.

Mas o que interessa para o guitarrista?
Nos interessa tão somente o TIMBRE que diferentes tipos de magnetos podem nos proporcionar. E a influência no timbre não depende apenas do material e força magnética, mas também da posição do magneto em relação à(s) bobina(s).
Vamos dar uma geral:

Nos Singles clássicos, os pinos de alnico estão no centro da bobina. Isso gera um timbre mais seco, com mais ataque e brilhante.


Já nos Humbuckers, a barra de alnico localiza-se embaixo das bobinas, transferindo o magnetismo para os parafusos.


O P-90 é exatamente um meio termo entre eles, pois tem apenas uma bobina (é um single), mas duas barras de alnico (uma de cada lado, polaridades inversas) magnetizam os 6 parafusos centrais.
 
Claro que cada captador tem sua sonoridade não apenas pela estrutura magnética e sim pela estrutura global, mas eu diria que o imã contribui com pelo menos 50% disso...
Esses são os 3 tipos básicos de captadores que utilizam Alnico, mas outros excelentes, como os Gretsch DeArmond, Dynasonic e Filtertron devem ser mencionados (por favor, procure pelas especificações da guitarra do Malcom Young/ACDC :) ). Aliás, os DeArmond e Dynasonic são singles incríveis - veja os links de vídeos abaixo.

A partir dos anos 60, gradativamente o alnico foi sendo substituido, nos captadores mais baratos, pelo ferrite. Nos anos 80, com os humbuckers de alta potência, o ferrite passou a ser uma opção até para captadores mais caros porque o aumento do número de voltas/resistência diminui os agudos e o ferrite é um pouco mais agudo que o alnico. Em captadores de baixa saída (os clássicos), ele soa estridente, mas pode ficar muito bem nos outros.
Uma mutreta que não dá pra encarar é um single que, ao invés de usar pinos de alnico, tem uma barra de ferrite embaixo magnetizando pinos de metal. São os que abundam por aí nas guitarras chinesas baratas. Veja:

Aqui no blog eu fiz um tutorial sobre como transformar um single de ferrite em alnico: Clique Aqui

Alguns humbuckers de alta potência, mais de 17k geralmente, precisam utilizar 3 barras de ferrite (uma central maior e duas laterais menores), senão soariam abafados demais.
Se tens curiosidade de saber se o teu single coil é cerâmico, é só procurar pela barra. Ou observar o brilho dos pinos - geralmente o alnico é mais fosco e nunca é niquelado.
Os imãs de ferrite são escuros e os de alnico via de regra têm aspecto de aço escovado (embora hoje em dia, alguns captadores vintage e caros utilizem alnico não polido).
Pessoalmente, nunca ouvi um captador feito de ferrite, de baixa/média saída, que soasse natural ou bonito. Alnico na cabeça! :)
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Pra ilustrar o post geral sobre captadores, vou colocar links para exemplos clássicos de captadores clássicos. Entre os caras, ninguém melhor do que o Phil X pra isso:
Um single DeArmond (Gretsch Duo Jet 1953):

Um single P-90 (Les Paul 1955) - ouça também a parte com saturação, por favor! :)


Um Humbucker PAF:

Stratocaster 1957 e seus singles (essa todos conhecem - ouça também Mark Knopfler, Eric Clapton, John Mayer, Hendrix e dezenas de outros mestres):


E pra finalizar esse post sobre captadores, um excelente vídeo com o Gary Moore (RIP) tocando só guitarras clássicas e captadores clássicos num Orange Tiny Terror (o pedal, ligado eventualmente, pode ser um Tube Screamer mas é mais provável um Digitech Bad Monkey).
A Telecaster dele é do mesmo ano da minha (1968)! :)


Captador é um assunto fascinante e inesgotável. Ficamos com o básico por aqui. Eventualmente voltarei com mais alguma coisa.
Abraço!

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 COMO TROCAR BARRA DE FERRITE POR ALNICO EM HUMBUCKERS

Ôps! voltei mais cedo do que eu imaginava! :)
Quando postei o tutorial para colocar pinos de alnico em singles cerâmicos, faltou explicar o processo num Humbucker, trocando a barra cerâmica/ferrite por uma de alnico. A barra de alnico custa por volta de 14 reais na captadores.com br. Geralmente o alnico II fica melhor em captadores mais fracos (até 8k), da posição do braço e o Alnico V na ponte, mas nada é definitivo aí.
Vamos lá:
(Antes de tudo, deixo bem claro que, embora simples e rápido, esse é um procedimento que pode danificar o captador, pois existe a possibilidade de romper os finíssimos fios de cobre. Faça o processo com muita atenção e cuidado.)

Se o captador tiver a capa de metal, ela geralmente é soldada. Use um ferro de solda (mínimo de 40 watts nesse caso) para soltá-la.
Lembre-se que a maioria dos captadores são parafinados - é comum desprender alguns pedaços de parafina. A barra cerâmica raramente é colada, mas pode estar levemente presa pela parafina, portanto, pode ser necessário usar a ponta de uma chave de fenda como alavanca para desprendê-la. Sempre com muito cuidado para não romper os fios.

1). Inicie retirando os 4 pequenos parafusos que prendem as bobinas à placa de base:



2) - Vire a tampa da base com cuidado para expor a parte de baixo das bobinas e a barra de imã cerâmico:
Atenção para a região circulada - é onde estão as sensíveis ligações. Nunca estique ou puxe essa parte. Apenas afaste-a para o lado e no final recoloque-a no lugar.


3): Antes de retirar a barra, coloque uma bússola uns 3-5 cm sobre ela (ex: posicione o norte para os parafusos), veja para que lado a bússola aponta e anote. Retire com cuidado a barra cerâmica e coloque a barra de alnico no lugar dela, seguindo a mesma orientação da bússola.


Por último, é só recolocar os parafusos de fixação.
Não adianta muito colocar barra de alnico em captadores de alta saída, mais de 15k, por exemplo, pois o som pode até piorar, soando mais abafado. Em captadores de até 9k, vale a tentativa - o timbre deve ficar mais macio e dinâmico. Assim como nos singles, dificilmente a troca de imãs irá transformar um captador ruim num bom, mas pode melhorar bastante sua sonoridade.