segunda-feira, 16 de junho de 2014

Vai mais um PAF aí? - Malagoli Custom 55

Oscar Isaka Jr




          Sonoridade... Tá aí uma palavra extremamente subjetiva e perigosa. Se descrever sons através de palavras já é complicado, como então fazê-lo para sensações e emoções? Sempre tentamos (quase sempre sem sucesso) descrever aos amigos o que sentimos, seja numa mesa de bar - ou mesmo numa conversa informal em alguma loja - quando ouvimos aquele drive cremoso, a distorção definida, aquele clean cristalino, o delay orgânico, o tremolo pulsante, o timbre magrelo e "sem vida" até o "som gordo" e transparente.

Através dos anos, lendo, testando e principalmente escutando timbres e sonoridades de captadores, guitarras, amps e tudo mais que rodeia esse nosso mundo da guitarra elétrica, toda a subjetividade se torna comum quando ouvimos a palavra "P.A.F." Quando recebi o Malagoli Custom 55, entusiasmo foi a primeira palavra que me veio à mente... Ok.... Tenho que confessar que como "escritor" desse Blog, sou um ótimo analista de sistemas :-)

 

Quando o Érico nos contatou perguntando se não queríamos testar algum modelo da Malagoli, de pronto aceitamos e achamos uma ótima idéia. Nós do LPG sempre procuramos valorizar muito nossos cientistas do timbre brazuca, que mesmo com todas as dificuldades tributárias e etc, conseguem  entregar um produto de altíssima qualidade, mas que muitas vezes não recebem o devido valor  e reconhecimento. Sabemos da importância da Malagoli no mercado nacional e sempre tivemos pedidos de vocês sobre os captadores da marca, então a oportunidade veio muito bem a calhar e depois de alguns e-mails, claro que o modelo escolhido foi o Custom 55, um dos modelos P.A.F. oferecidos pela empresa. Antes de falarmos do modelo, aproveitamos e batemos um papo com o  Érico sobre a Malagoli.

LPG - Como e quando a Malagoli começou? Sempre foi no mercado de captadores?

     A historia é interessante. Nos anos 60 havia uma banda no bairro da Pompéia, chamada The Thicks. Por falta de condições, dois dos integrantes, Carlos e José Malagoli, começaram construindo seus próprios instrumentos. Em seguida, passaram a vender guitarras aos amigos, e por fim, a produzir os próprios captadores. Com a procura por estas peças, a produção de guitarras foi desativada e os captadores se tornaram então o principal produto da empresa.
      Nos anos 70 e 80 a empresa ficou muito conhecida também pelos pedais SOUND.

LPG - Qual a visão da Malagoli sobre o mercado nacional? Como a Malagoli (troquei pelo SOUND) se encaixa nisso?


     O mercado tem se desenvolvido bastante, isso é muito importante para todos que vivem dele, desde as fabricas até os músicos. É um ciclo, quando o músico brasileiro acredita em um BOM produto nacional, ele permite ao fabricante se desenvolver, crescer e investir mais, o que significa mais opções no mercado
     Hoje nosso site, dentre os especializados na venda de captadores, é um dos principais do mundo. E isso aconteceu aqui, no Brasil. Com um produto feito por brasileiros

LPG - Como nasceu a Malagoli Custom Shop, e qual o papel desse setor na empresa?

     A divisão Custom Shop é hoje a principal da empresa, pois é onde mais fazemos pesquisas, testes e lançamentos de produtos. Dedico a maior parte de meu tempo ao laboratório onde ficam somente eu, meu computador e centenas de peças e protótipos de captadores. Todos os captadores que fabricamos são de ótima qualidade, mas os da linha Custom Shop estão um patamar acima. 100% da matéria-prima vem dos EUA, dos mesmos fornecedores das grandes marcas de pickups.
     Confiamos tanto nestes captadores, que para eles a garantia é ETERNA. Fazem também parte desta linha os captadores signature HH777 e RL Legacy

LPG - Poderia comentar sobre o Custom 55 ? Como ele nasceu, materiais empregados na construção e etc?

     Curto muito captadores Vintage. Tenho e já destruí vários. Além disso conto com alguns  importantes colaboradores. O 55 surgiu da vontade de todos em fazer um P.A.F. respeitan-do suas características, mas não montar uma simples réplica e sim criar uma releitura do modelo clássico da Gibson. Como nós, da Malagoli, faríamos um P.A.F.. Ele usa fio Plain Enamel como os originais e imã alnico 2 "Rough Cast". E tudo isso em um visual moderno, bem montado. A produção é 100% artesanal e 100% feito no Brasil!

LPG - Perspectiva para o futuro? Novos produtos? Vintage? Moderno?

     Ano que vem é um ano de comemoração, pois completaremos 50 anos de atividade. Por isso, muitos lançamentos estão programados, para todos os gostos. Um lançamento que deve ocorrer em breve é o Little 55. Um Humbucker formato single, porém com alnico e fio Plain Enamel... Ops, falei! kkkkk


Alnico "Rough Cast"
     Ao abrir a caixinha do Custom 55 encontrei o nosso set encomendado, um belo par de Humbucker Zebra. Embora padrão nesse modelo, pedi ao Érico que não parafinasse o nosso set de testes para que pudéssemos avaliar o modelo em toda a sua plenitude. Como já discutimos antes e constatamos várias vezes nos nossos testes, a parafina minimiza a microfonia e realça o ataque, mas também tira um um pouco da complexidade harmônica proporcionada pela vibração natural das bobinas. Além do fio Plain Enamel (que dispensa comentários rsrs), o Alnico 2 Rough Cast completa a fórmula do Custom 55 mostrando o cuidado da Malagoli em usar as mesmas características dos PAFs originais. O Alnico Rough cast é assim chamado devido ao método pelo qual é feito, usando moldes de areia, o que atribui a ele um aspecto rústico ao invés do metal polido e brilhoso do alnico moderno. Quando falamos de PAF, todos os detalhes contam!!


     A guitarra teste foi a mesma que usamos nos outros posts sobre PAF do Blog (Parte 1 e Parte 2) - minha "R9" 2003 de guerra. Durante a instalação já aproveitei e medi a resistência das bobinas (ambos vieram com "4 fios" e notei uma assimetria de quase 1k entre as bobinas. Bobinas assimétricas é uma característica bastante conhecida (eu diria até padrão) dos PAFs, mas normalmente é menor que isso, com cerca de 0.3k nos demais modelos que testamos aqui. No total, cerca de 7,7k em cada um deles sendo ambos os modelos idênticos na resistência, diferindo apenas no espaçamento dos polos pois o da ponte tem 52mm ( F-Spaced, Trembucker, etc etc etc).

Ok, guitarra afinada, regulagem de altura feita e plugada no Deluxe Reverb Reissue, toquei as primeiras notas... Um PAF tem que ser ao mesmo tempo macio no ataque sem perder a definição com a nota abrindo harmoniosamente após a palhetada, o famosos "bloom", com sustentação e precisão nos graves e dose certa de agudos. Fácil né? rsrs. Pois vou dizer que o Custom 55 tem sim um bom pedaço de todas essas características. De cara é possível notar a característica da combinação do fio PE com o Alnico 2 com bobinamento manual sem muita pressão, gerando um ataque macio mas definido com o decaimento das notas de maneira muito bonita com bastante dinâmica.
O ataque é mais suave nos médios, com uma boa definição de agudos (olha a assimetria aí) e o grave cresce depois. Botei mais volume no amp até quase saturar o Deluxe e ele segurou numa boa somente acentuando as características que já mencionei e talvez apresentando um leve excesso de agudos que deu pra limar com o tone numa boa.
Mesmo com bastante volume não tive nenhum tipo de microfonia e até com drives leves e médios o Custom 55 mostrou um timbre muito bom e consistente. O captador da ponte tem um twang quase de tele enquanto que no braço é onde a magia realmente acontece e o PAF abre com tudo o que já sabemos.


         Pra mencionar algo,  talvez senti falta de um pouco mais de foco nos médios e percebi um leve excesso de agudos (mas lembrem-se que os do teste estão sem a capa metálica e sem parafina, duas características que soltam mais os agudos). Notei um pouco menos do timbre Double-Tone saxofônico mais presente em alguns outros modelos, mas no geral ele atende muito bem os requisitos de um bom PAF. Abaixo, gravei duas bites tentando replicar os riffs dos outros posts pra vocês terem uma referência. Não estão com as exatas settings, mas da pra ver e ouvir que o Custom 55 não deve nada aos outros modelos.



Conclusão, fiquei extremamente feliz e honrado de poder dizer que o Custom 55, feito aqui no Brasil,  tem sonoridade e personalidade de gente grande, com as qualidades que esperamos de um bom  catador PAF-like. Ainda quero testá-lo na minha SG, e numa Semi-acústica (acho que vai brilhar aqui), mas o Érico imprimiu sua sonoridade sem comprometer as boas qualidades que fazem a sonoridade do PAF talvez a mais misterioso e complexa do mundo elétrico das 6 cordas.

Com isso tudo, o Custom 55 é um forte candidato ao nosso selo de Ouro LPG! Vamos apenas aguardar mais alguns testes e opiniões pra confirmar.

Obrigado ao Érico e que ele continue a nos brindar com ótimos modelos.

Contato:
Malagoli Captadores


 

Edit: O Alex Frias também tem um Custom 55 instalado em sua Cort Source e gravou um sample demonstrando. O modelo que ele pediu tem a capinha de Nickel e uma leve parafinação. Veja:



EDIT: O Érico estava tentando publicar um comentário também, mas por algum motivo não estava conseguindo, então estou transcrevendo a vocês:

"Olá Amigos. Parabéns pelo Blog e pela matéria, ficou muito show!!! Nosso mercado precisa de ações informativas como essas do LPG, para ajudar o público na escolha! Isso é muito importante, um belo trabalho! Valeu pela ajuda! Abração! Érico Malagoli."

Nós que agradecemos Érico! :-)

quinta-feira, 5 de junho de 2014

TAGIMA?

Paulo May

         Quem acompanha o blog há mais tempo sabe do meu perrengue com a Tagima. Não foi coisa simples e rolou na justiça por alguns anos.
A Tagima vendeu um produto específico - uma guitarra - que não estava de acordo com o anunciado, mas independente do mérito da questão, quero deixar bem claro que não é a "Tagima" representada historicamente pela pessoa do mestre luthier Seizi Tagima e sim a empresa Marutec, atual dona da marca.
O senhor Seizi Tagima é uma lenda viva da história da guitarra no Brasil e o vetor mais importante da valorização do produto nacional que ocorreu entre 1985 e 2000. Que tenha todo o mérito e lamento, tanto devido ao imbróglio pessoal quanto ao status atual da marca, que seu nome esteja vinculado a esses aspectos negativos.

Dito isso, vamos ao post: por indicação do (também mestre, mas de amplificadores) Augusto Pedrone, conheci o excelente canal do site "Guitar Experience"  no youtube, inicialmente para me deliciar com uma entrevista com o senhor Carlos Alberto Lopes, vulgo "Sossego" outro marco da história musical brasileira com a Giannini e a Palmer e, em seguida, uma fantástica entrevista com Seizi Tagima.
Fantástica e reveladora especialmente para mim, já que ele menciona nomes que fizeram parte da minha adolescência/juventude, como o guitarrista "Piska" (excepcional músico), conta toda a história da Tagima, do mercado brasileiro, contato com a Marutec (depois Royal e a Seizi), importação dos produtos orientais, etc.

Essa última parte, do contato com os tailandeses, coreanos, chineses e o processo que rola "por fora" (isso lá pelo 60º minuto da entrevista) é exatamente como eu pensava e praticamente o mesmo citado pelo luthier Jol Dantzig (Hamer guitars - o link para o blog dele, onde está esse post, fica aqui do lado direito, na seçao de links). Quando são apresentados, eles já começam dizendo: "Fazemos guitarras para Fender, Gibson, PRS... E não só as linhas mais baratas..."
Como disse Dantzig: "Vocês se surpreenderiam ao saber que algumas marcas bem famosas são feitas inteiramente lá". Eu sempre brinquei que as falsificações são feitas no "turno da noite" de algumas fábricas chinesas e o Seizi menciona uma visita noturna à uma fábrica fornecedora, trabalhando a todo vapor :)

Enfim, uma entrevista franca, aberta e imperdível com o mestre Seizi Tagima - o "japa" :).

(Clique na imagem abaixo para assistir no YouTube)
Entrevista Seizi Tagima

 
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PS: Depois de ficar mais de uma hora vendo a entrevista do Seizi, voltei e terminei de ver a entrevista do "Sossego". É uma loucura quando a mesma história é narrada sob outro ponto de vista - Giannini, Palmer, suas visitas às fábricas de amps no mundo inteiro, enfim, os anos 60 e 70 numa perspectiva única e embriagante, quase cinematográfica.