segunda-feira, 25 de dezembro de 2017

Projeto Les Paul - dessa vez vai dar certo!

Paulo May

(obs: antes de fazer perguntas e ou postar comentários, leia aqui: CLIQUE)


          Uma das coisas mais legais de lidar com esse blog é que por meio dele nós temos a dádiva de encontrar pessoas realmente excepcionais. São seres humanos com claro e profundo domínio da sua profissão. Habilidade, genialidade e via de regra perseverança, os colocam acima de qualquer média. 
Quem acompanha o blog sabe que estou falando de caras como o Sérgio Rosar, Kaiser, Pedrone, BoveCastelli, Copetti, Manara, Inaldo, etc. São muitos para citar, desde o luthier que faz o seu trabalho com absoluta dedicação e capricho, passando pelo cientista que perde dias num detalhe de projeto até finalmente o músico que sabe avaliar um bom timbre.
         E é gente de todo o Brasil - alguns de lugares que eu nunca ouvi falar, como o Eduardo Kaiser, de Nova Petrópolis na serra gaúcha. Quando eu cismei de fazer uma Les Paul aqui no Brasil, em 2010, não imaginei de forma alguma que o faria com o um gaúcho alemão de Nova Petrópolis!KKK! 

        Em junho de 2016, o "Projeto Les Paul" foi iniciado (clique aqui para o linkcom o Adriano, da RDC guitars de Minas Gerais. O Adriano trabalha como luthier quase que somente nas horas vagas, pois essa não é a sua principal atividade. Como ele queria fazer uma guitarra com o máximo de dedicação, foi adiando, adiando e depois de um ano e meio decidimos que seria melhor desistir da ideia. Como mencionei naquele post, a 1ª lei de Murphy é inexorável, hehehe.
Não postei essa triste notícia porque, como dizia a minha avó: "Há males que vêm pra bem" e nesse meio tempo conheci o Eduardo Kaiser. Eu havia feito uma Les Paul com ele (modelo "Deluxe" com câmaras de alívio de peso), além de outros trabalhos que estão aqui no blog (Teles e Stratos de madeiras diversas). A primeira Les Paul foi uma experiência muito boa e serviu para refinarmos as decisões em relação à segunda.

         Em outubro de 2017 o Adriano enviou as madeiras e materiais para o Kaiser, que iniciou a Les Paul no dia primeiro de novembro. No dia 29 do mesmo mês, ela foi enviada pra mim para a finalização (acabamento e colocação do hardware). Pra quem esperou 18 meses, 28 dias parecem um milagre, né? Só que não, pois alemão é assim mesmo - se é pra fazer ele faz e ponto final. Sem a intenção de parecer preconceituoso, pela minha experiência, se o cara tem sobrenome alemão ou italiano, já é meio caminho andado... :)
E por falar em italiano, quando me vi diante de um impasse perigoso na finalização da LP, apelei para o mago Copetti, excepcional luthier aqui de floripa que invariavelmente faz trabalhos perfeitos. O problema de ter pessoas como o Kaiser e o Copetti à disposição é que acabo evitando de fazer qualquer trabalho aqui em casa, já que eles fazem tudo BEM melhor do que eu :)

Bem, antes de irmos à sequência de fotos e vídeos do projeto Les Paul, um pouquinho de Nova Petrópolis - uma cidade linda, daquelas alemãs típicas da Baviera:


Material: quase todo o hardware e plásticos na Stewart-MacDonald (stewmac) uma das maiores lojas do mundo em suprimentos para luthiers. O top de maple consegui comprar aqui no Brasil, com o Miguel Cardone da Music Tools. Lindo flame, acredito que no mínimo, qualidade AAAA.
Mogno: Mozar Menezes, de Jandira/SP (via Mercado Livre). Bloco de mogno brasileiro, com cerca de 15 anos, medindo 50,5 x 35 x 4,4 cm e peso total de 4,8 kg.

Como sempre mencionei no blog, 95% do mogno "brasileiro" que tenho visto é pesado demais, mas esse bloco tinha um peso similar aos blocos de mogno hondurenho (de peso médio) que pesquisei na internet/ebay. Nessas medidas aproximadas, um bloco leve pesa cerca de 4 kg, um intermediário entre 4,2 e 5 kg e os pesados sempre mais que 5 kg.


INICIANDO  A LES PAUL

         Não conseguimos um bloco ideal de mogno para o braço - o padrão Gibson é com corte radial e sem emendas/colagens. De qualquer forma, e considerando que eu tenho sérios problemas com os braços gordos da Gibson (mesmo os "60's" têm muito ombro), pedi um braço semelhante ao da minha telecaster 68 - entre um "C" e "V", com poucos ombros (para saber mais sobre "ombros", clique aqui). 

O Kaiser já sabia da minha bronca com os ombros e sugeriu um formato "soft V" - que eu gosto bastante, veja os padrões:


         Com a perda de massa, optamos pelo "volute" na junção do headstock, inserção de duas tiras de fibra de carbono para reforçar e colagem espanhola. Braço fino de mogno tem menos rigidez e é muito frágil, principalmente na junção do headstock. Tenho firme convicção que essas alterações não interferem muito com o timbre (pelo contrário) e garantem a estabilidade e rigidez necessárias. Eu enviei um tensor vintage Gibson para o Kaiser, mas na última hora optamos por um tensor moderno, bem mais eficiente. 
Eu tenho duas Gibsons Les Paul e o que mais me incomoda nelas são os braços gordos - então é óbvio que eu não deixaria passar a chance de fazer um braço do meu gosto :)

1) Corte e retificação do bloco de mogno (uma peça)
2) Alívio de peso (Gibson clássico: 9 furos): calculamos que sem (pelo menos) esse padrão de alívio, a guitarra ficaria com mais de 4,5 kg - o meu limite máximo para peso de guitarra. Acima disso é sacanagem com os ombros de qualquer pessoa :).
3) Colando os dois blocos de flamed maple.


 4) Colagem do top de maple sobre o bloco de mogno. Importante detalhe: aquele canal curvado que sai da cavidade de controle é para passar o fio terra da ponte. Há muitas Gibsons antigas sem aterramento da ponte.
5) Corte/retificação do top de maple já colado.


O Kaiser filmou algumas partes do processo. Editamos nesse vídeo de 3 minutos:


6) Iniciando o "binding". Braço no estágio inicial, apenas com o headstock e "colagem espanhola"
7) Escala e binding do corpo prontos, braço já com tensor e os dois canaletes para as fibras de carbono para reforço.


          Essa etapa é uma das mais delicadas e importantes na manufatura de uma Les Paul (na verdade, em TODAS as guitarras) - a junção do braço com o corpo: Long tenon, para maior área de contato, angulação correta (entre 3 e 5 graus - geralmente 4) e bem apertado. Na foto 10, a junção está tão firme e precisa que o Kaiser levantou o corpo pelo braço, sem estarem colados!! :)



11,12,13) Processo de colagem da escala


14) Colando o braço no corpo. 15) Confirmando a correta angulação. 16) Finalizando os trastes (aço).


E... Voilà!! Uma Les Paul brasileira, feita em Nova Petrópolis! :)



ACABAMENTO E FINALIZAÇÃO

No dia 4 de dezembro recebi o pacote - meu presente de natal adiantado, hehehe:


 E já iniciei o processo de acabamento/finalização. Primeiro, decidir qual o padrão de cor do top: optei por um "teaburst" bem sutil. Depois, começar o tingimento (anilina em álcool puro - usei álcool 92,8%) pelo amarelo:

Até dá pra deixar assim, algo meio "Lemmon Burst", mas eu acho que a longo prazo, uma tonalidade mais âmbar é menos cansativa de se olhar :)
Preparei, utilizando anilinas amarela (ouro), laranja, vermelha (encarnado) e "imbuia" vários frascos com várias tonalidades, do amarelo puro ao quase marrom. Como eu mesmo iria colocar o verniz e o que eu utilizo já é meio âmbar, tive que ficar imaginando os tons finais... Difícil, mas deu pra chegar no que eu queria. Segue uma série de fotos do processo:

Já com as bordas um pouco mais escuras - sunburst sutil... :)

O overlay do headstock foi comprado na Crox Guitars, assim como o decalque Les Paul. Quando quero algo realmente top e profissional, compro lá. Normalmente envia por carta e a gente evita o arroxo absurdo dos impostos de importação.

Colocar e finalizar decalques é um trabalhinho que requer uma certa experiência e muita, muita paciência. Tem que preparar inicialmente a base com verniz, lixar, polir, colocar o decalque, passar várias camadas de verniz, sempre lixando, lixando, até não percebermos mais os limites do decalque. Depois polir até o ponto ideal - eu evito aquele brilho excessivo das guitarras modernas.

O mogno tem poros grandes e é recomendável que se utilize "filler" de madeira antes para não ter que usar muito verniz depois. Eu fujo de tudo isso apenas colocando 3-4 camadas de verniz e depois lixando. A superfície fica natural e dá pra sentir a textura do mogno. Esse tipo de acabamento obviamente não fica com brilho porque se usar massa de polir ela penetra nos poros - mas dá pra deixar um leve acetinado. Eu acho legal e, mais importante, isso deixa a madeira ressoar mais livremente.



         Eu poderia ter ido até o Copetti ou o Inaldo e finalizar tudo com eles, mas o objetivo do blog sempre foi a ideia do "faça você mesmo", então o que dá pra fazer em casa eu fiz. Utilizei verniz marítimo com rolinho no mogno e verniz spray em lata no top. Sempre tento colocar o mínimo possível de camadas mas às vezes quando vou lixar acabo chegando na madeira em alguns pontos... Aconteceu dessa vez e - coisa mais chata - tive que voltar, colocar mais 2 a 3 camadas de verniz e reiniciar as lixas.
Utilizo a sequência de lixas (todas com água): 320/360/400 - 600 - 1200 - 2000 - 2500. A 2500 já deixa quase no brilho - é só polir (com massa de polimento - dessas de automóveis) e deu pra bola.

Antes de iniciar a lixação. O verniz "acende" o flame do maple. 


Depois de polida (à mão, trabalho danado) e pronta para montagem do hardware

          Bem, quando eu ia partir para a colocação do harware, me deparei com um problema - como não enviei a chave seletora switchcraft para o Kaiser e ele não tinha uma lá, eu precisaria fazer um rebaixamento circular na cavidade da chave - isso é feito nas Gibsons - mas é um trabalho delicado porque o maple fica muito fino nesse ponto. Qualquer erro e não tem volta... Eu não tenho tupia e nem fresa longa pra isso.
Novamente, tive que apelar para o Copetti - assim como na outra Les Paul Kaiser (que eu não postei ainda - uma Deluxe), ele avalia tudo, vê coisas que eu não vi e dá o diagnóstico, invariavelmente correto :) Como eu já estava cansado de tanto lixar essa Les Paul, sucumbi à preguiça e pedi pra ele finalizar tudo - até o nut, que eu mexi demais e passei do ponto (pra variar, hehehe).

         A guitarra ainda está com o Copetti - devo pegá-la essa semana. Optei por um humbucker Rolph no braço e  Shaw na ponte. Classicamente, os Shaw foram tunados para pots de 300 e não 500k, mas deixei 500... Deveria postar no blog somente após pegar a guitarra, tocar e saber se está tudo ok, mas novamente ignorando Murphy, vou postar até aqui e complementar depois, se possível com uma demo em vídeo...

Pra saideira, uma foto da (outra) Les Paul Deluxe Kaiser (plain top):

ATENÇÃO (25/2/18): guitarra finalizada e com vídeo demo: CLIQUE AQUI



domingo, 6 de agosto de 2017

Entendendo e Tunando uma Gibson SG

Oscar Isaka


(obs: antes de fazer perguntas e ou postar comentários, leia aqui: CLIQUE)

          Mais de 1 ano depois estou finalmente retornando a escrever no nosso querido LPG. A pausa foi muito mais longa do que eu planejei (casamento, reforma da casa etc) , mas antes que o Paulo venha até Curitiba para me dar um pito, vamos voltar as atividades rs.

Ao longo do tempo a medida que vamos testando instrumentos, nos ensaios, nas lojas ou em casas de amigos, vamos começado a entender o que agrada nossos ouvidos. Sempre brinco com o Paulo que isso é meio mutante, a coisa vai mudando a medida que você ouve novos sons, é exposto a novas experiências, enfim a medida que você vive a vida. Eu mesmo, até um tempo atrás não gostava de LedZeppelin e minha playlist se resumia a Dream Theater e Helloween o que obviamente influenciava diretamente no tipo de som que eu queria extrair da guitarra. O Paulo sempre comenta que se a fundamental estiver lá, o resto todo vai se tornando detalhe como captador ideal, ferragens etc são temperos adicionais numa boa guitarra, agora um bom captador não deixa uma guitarra ruim boa. Essa SG é um excelente exemplo disso pois quando peguei ela estava num estado bem esquisito, mas desde a primeira vez que pluguei eu sabia que ela tinha potencial e resolvi documentar o processo todo de avaliar e tunar essa guitarra pois daria um post bacana. 

Gibson SG Standard 2013
Quando toquei ela na loja, a primeira impressão foi boa. Gostei da pegada etc e o corpo tinha excelente ressonância acústica. Isso nunca é regra para bom timbre, mas geralmente é um bom indicativo. Observei algumas falhas de regulagem tbem, como o NUT e ponte com cortes muitos largos, onde a corda dançava nos bends, mas isso é resolvível. Quando pluguei o som estava meio gordo e sem definição, como se o tone estivesse fechado, mas ouvi o twang característico que sempre associo ao som de SG, que é muito evidente no som da guitarra do Angus por exemplo. É o meu tipo preferido de som de SG e que até hoje não havia achado. Pensei na hora, se eu substituir os pots de 300K por 500K nos volumes, o tone vai abrir e talvez essa guitarra tenha uma boa chance de viver. Como disse antes, regulagem e etc, é resolvível, mas a fundamental não se resolve. ;-)

Com a guitarra na bancada, o primeiro passo sempre é fazer uma regulagem geral, ajustando o tensor e avaliando a curvatura do braço e etc. O ajuste correto do tensor evita trastejamentos, ajuda na estabilidade do braço e da afinação além da tocabilidade e sonoridade final da guitarra. Um braço muito abaulado faz com que o ataque fique meio molenga e sem definição.

Ajuste de Tensor
Nessa etapa a regra é sempre ir com calma. Eu sempre meço apertado a corda no traste 1 e 19 e medindo a folga que fica na corda na altura da casa 12. Se estiver com folga maior que a espessura de um cartão de visitas dou uma apertadinha (nunca mais de 1/4 de volta de cada vez), e vou acertando a altura do tensor com a ponte até que fique do meu gosto. Quando terminei a diferença já era bem notável. O conjunto já estava mais macio e confortável. Já aproveitei e dei uma hidratada na escala que estava seca e bem suja. Óleo de Limão e o Hydrate da Planet Waves fizeram o trabalho perfeitamente. 


A segunda etapa é a parte elétrica. Soldas frias, aterramento , potenciômetros, caacitores, tipo de ligação, tudo é revisado e foi nessa parte que eu quase cai pra trás nessa SG. Eu já esperava trocar pots e refazer a ligação pois não gosto dos pots da Gibson e a não ser nas guitarras Custom Shop, o esquema 50s Wiring não vem de fábrica, mas o que achei aqui foi assustador...




  
O dono anterior tinha refeito a ligação toda usando fio com malha e a coisa toda ficou uma macarronada, com capacitores chineses genéricos e bolas de solda pra todos os lados. Tirei tudo e substitui os potenciômetros por outros novos CTS da Mojotone que eu tinha por aqui. Ainda precisava conferir os captadores, mas o resultado ficou como a foto abaixo. Note o terra vindo da ponte, ligado no pot de vol do captador do braço, e o fio interligando os pots todos. Não há necessidade de usar fio com malha para essa ligação, e correr risco de adicionar capacitância e ground-loops que vão degradar o sinal :-). 

Levantei o escudo para verificar os captadores esperando um par de 57 Classics, que seriam os originais da guitarra por ser uma SG Standard 2013 e encontrei as cavidades cobertas por blindagem de cobre. Eu entendo isso na cavidade de Strato, pois colocando também a folha no escudo realmente tem uma redução de ruídos dos singles, mas nunca entendi isso nas cavidades de humbuckers. Outro detalhe a observar nessa guitarra são os furinhos das molduras dos captadores, o que confirmei mais tarde. As SG de 2013 vinham com escudo tipo 61 (pequeno) e molduras e não com o escudo de "morcego" como esta. Até prefiro a estilo 61, mas nas SGs pretas o tradicional Standard não me incomoda, então deixei como esta, mas removi toda a "blindagem" de cobre das cavidades. 





Os captadores ambos eram Gibson, mas um deles tinha a estampa da "Gibson USA" no plate diferente do adesivo PAF dos Classic 57. Medindo ambos, constatei realmente que o do braço batia com as especificações do Classic 57 com 7,9k e o da ponte com perto de 14k o que bate com o 498T. 




Para confirmar a minha teoria da elétrica ser a principal causadora do "abafamento" do timbre da guitarra medi os potenciômetros de volume. Ambos teoricamente deveriam ser de 300K cada, o que por si só combinado om os captadores 57 Classic e 498T já deixaria tudo muito gordo e sem os agudos que eu gosto, mas o resultado do que eu meid foi bem longe disso. Um deles acusou o valor de 227k! Isso é pouco até para singles que pedem 250! Não é a toa que a guitarra estava soando abafada. Infelizmente isso é muito comum em potenciômetros da Gibson, por isso sempre prefiro pots CTS mas de marcas como Emerson ou MojoTone pois tem uma tolerância bem menor. 


Depois de re-fazer a elétrica toda, com potenciômetros novos (MojoTone), capacitores PIO Russos de .022 e ligação 50s Wiring e a nossa SG começa a respirar melhor! Sempre tenho cuidado em deixar os fios mais curtos possível e as soldas bem limpas e brilhantes. 

Elétrica pronta!

Ponte ABR-1(esquerda) e Nashville (Direita)
Depois do trabalhão da elétrica, coloquei cordas ajustei tudo e pluguei. Eu queria ouvir o timbre dela sem o cobertor e o resultado não poderia ser outro. Timbre aberto, bonito, com grande extensão dinâmica, agudos graves e o meu twang preferido estavam todos lá na fundamental exatamente como eu esperava. No entanto eu sentia que o ataque ainda podia ser melhor, e mais "sequinho". O único lugar que eu ainda podia ajustar algo era a ponte. Eu não gosto da sonoridade das pontes Nashville tradicionais da Gibson pois acho que o ataque fica meio fofo e amortecido em comparação com a ABR-1 tradicional.  Eu tinha aqui em casa uma ABR-1 Gotoh que eu tinha comprado na StewMac que não necessitava de adaptações, pois os buracos dos "posts" eram do tamanho dos da Nashville. Não é o ideal, mas já ia me dar uma boa ideia da diferença do timbre entre elas pra depois se eu gostasse poderia investir num kit de conversão da Faber ou da Callaham mesmo. Instalei a ponte e maravilha! O ataque ficou muito mais focado nos médios como eu gosto e com graves um pouco mais secos. 

Deu um baita trabalho (1 semana de diversão), mas consegui deixar essa SG com um timbre maravilhoso. Ainda pretendo colocar um par de captadores mais fraquinhos e instalar o kit de conversão da ponte, mas ela já esta excelente. É muito legal podermos enxergar esse potencial numa guitarra que numa primeira impressão soa "estranha", mas tunando e mexendo ela ganha vida. Se nas guitarras mais baratas funciona, por que não funcionaria numa Gibson? :-)   
  

sábado, 22 de julho de 2017

Variedades 2017-07

Paulo May

(obs: antes de fazer perguntas e ou postar comentários, leia aqui: CLIQUE)


         O título do post é "variedades" porque há vários temas passando pela minha cabeça nesse final de semana friorento aqui em floripa...


 CALÇOS STEWMAC (Neck Shims)


         O primeiro assunto, antes de ser lido, precisa de uma ida até esse post: CLIQUE AQUI. É um post de 2011 sobre problemas com angulação de braços parafusados. Até então eu utilizava pedaços de papel grosso, fitas adesivas, etc. No final de 2016, entretanto, recebi um e-mail da StewMac (empresa americana de suprimentos para luthieria) apresentando seus calços (Shims). Comprei dois e fiquei maravilhado com o resultado impecável e profissional. Já comprei mais 5 e troquei todos os velhos calços que tinha por aqui. Muito, muito conveniente e prático. Acaba de vez com o problema da perda de contato entre o braço e o tróculo e previne problemas mais sérios como a deformação do final do braço (ilustrada na figura abaixo:)

 A stewmac fez um vídeo ilustrativo no youtube. Coloquei subtítulos em português pra facilitar:



Já havia visto alguns calços desse tipo à venda, mas muito caros e não tão perfeitos. Esses da stewmac matam à pau...
Depois do "Fret Rocker", esse é o item mais importante pra se ter em casa - no caso de tu seres um guitarrista "DIY" como eu, hehehe...

PS: Convém lembrar que a utilização de calços é muito comum até na própria Fender. Guitarras saem da fábrica com os calços já instalados - e isso desde o início. Calços "vintage originais Fender" (e eles usavam até papel de lixa) são vendidos por até 100 dólares nos EUA. Parece piada mas não é... :)


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TELECASTERS "MAD MAX" DO ARROYO

         Quinta passada fui na oficina do meu amigo e guitarrista (e luthier, é claro) Alex Arroyo, que vocês conhecem das demos que estão espalhadas pelo blog. O que antes era uma pequena oficina no segundo andar de um prédio na galeria Jaqueline aqui no centro de floripa agora já ocupa quase metade do andar, pois estão agregados a loja de equipos usados (Pró Baixo) do Tito e uma oficina eletrônica. Sempre que vou no centro passo por lá e dessa vez aproveitei pra fotografar duas lindas telecasters montadas e finalizadas pelo Alex (e o Inaldo) que ficaram... do caralho! Vejam:




Detalhe dos botões de controle. Calibre 12? :)

Corpo de mogno. Esse corpo era meu e, assim como o próximo (abaixo), que é de cedro com top de marfim, fizeram parte do meu período de experiências (que, pelo amor-de-deus, precisa acabar) com madeiras e acabaram ficando com o Alex.


Lindas! Não sei qual o nome que ele vai dar pra essa linha, mas considerando que cada parte vem de um lugar diferente, pra mim elas têm um astral de "Mad Max". O Arroyo é apaixonado por carros também, por isso o tema - ele morre por um Opala das antigas, KKKK!

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ADEUS PARA AS ESCALAS DE ROSEWOOD...


         CITES (Convention of International Trade of Endangered Species of Flora and Fauna) é uma organização mundial que inclui dezenas de países e sua função é proteger espécies da fauna e flora que estejam em risco de extinção. 
Em 2016, a última reunião da CITES incluiu cerca de 500 espécies na lista de proteção. Entre elas, várias espécies de árvores e entre essas, a Dalbergia - o rosewood/jacarandá, que passa a ter seu comércio intensamente limitado e controlado. Essa lei é mundial e agora (desde 01/01/2017) até quem tem uma guitarra antiga com escala de rosewood pode correr o risco de perder o instrumento na fiscalização de fronteiras. 
A ideia da proteção eu acho legal, mas se exagerarem na implantação da lei, vai dar merda...

        Bem, a Fender já avisou (clique para o link) que só vai usar rosewood nas suas guitarras top - provavelmente só as custom shop -  e que a maioria vai receber escalas de Pau Ferro - sim o nosso Pau Ferro da américa do sul. "Fender players can keep an eye out for pau ferro fingerboards on guitars and basses in the Standard Series, Deluxe Series and Classic Series, in addition to many other instruments made in Mexico."

Muito legal, eu já conhecia o pau ferro e é capaz até de soar melhor que o jacarandá em algumas guitarras, mas tem aquele lance da magia vintage, né? Uns 10-20% dos guitarristas - eu incluído - vão cismar que falta alguma coisa, hehehe :) 

domingo, 9 de julho de 2017

Tele de Timburi: Testes e Opiniões

Paulo May

(obs: antes de fazer perguntas e ou postar comentários, leia aqui: CLIQUE)


         Bem, toda essa nova sequência de posts praticamente começou com o post de dezembro de 2016 onde eu discuti a questão da inclinação do captador da ponte da telecaster (e também da strato, mas é na telecaster que eu acho esse detalhe crítico). 
A ideia era pedir para o Eduardo Kaiser, da  Kaiser Guitars, um corpo de telecaster com a cavidade do captador da ponte invertida. Conversa vai, conversa vem, ele me convenceu a testar uma madeira chamada Timburi, cuja densidade está entre o alder e ash. 



        O corpo ficou perfeito (como sempre) e adorei o timbre do Timburi. Me parece uma excelente madeira para Teles e muito provavelmente, Stratos. Talvez a melhor até agora, na frente do cedro (bem, qualquer uma ganha dessa), marupá, tauari, mogno e freijó. 
Antes de entrarmos na questão do timbre, já vou dando um toque: antes de pintar o Timburi, use filler/massa para madeira. Eu utilizo os da Sayerlack, à base de água e com vários tipos de coloração para diversas madeiras. Cada latinha custa entre 12 e 18 reais:



        A superfície natural do Timburi tem muitas micro ranhuras e poros grandes, semelhante ao mogno...Se não usar filler, vai ter que encher de tinta/verniz, que não é aconselhável. Na foto em close dá pra ver o tamanho dos poros:


        Mas, casa de ferreiro, espeto de pau, fiquei com preguiça de passar pelo processo do filler e fui direto pra pintura... Se soubesse que o timbre seria tão bom, teria colocado o filler antes e evitado umas 3 ou 4 demãos de tinta e/ou verniz :) 
Até o momento, madeira aprovadíssima para teles. E essa peça é particularmente leve. Muito legal.

        Um dos testes mais interessantes que faço aqui é o da "gravação". Sempre que vou gravar alguma música, quase que instintivamente escolho a guitarra que vai dar um timbre mais legal naquele contexto. Era uma base de rock/boogie woogie, timbre levemente saturado: olhei para as guitarras e, das 9 telecaster que estavam na minha frente, optei pela Timburi. A segunda guitarra, no contratempo, precisava de um timbre algo mais cheio, meio humbucker e, mesmo com todas as maravilhosas Gibsons que tenho, novamente usei a Cabronita - essa já tá virando rotina por aqui. Gosto muito do timbre desses captadores. Humbucker clássico é definitivamente pra coisas um pouco mais "hard".
         Quando montei a guitarra, estava sem nenhum Rosar V-Hot-T disponível e acabei usando um outro, também montado pelo Sérgio, com padrão de bobinamento do V-Hot, mas com fio enamel e imãs de alnico III. Embora seja o magneto inicialmente usado por Leo Fender nas teles, não gosto do alnico 3: me parece meio linear na dinâmica (observem depois que o Faraco percebeu isso na avaliação dele), com pouco punch e sustain, ou seja, insosso :). Mas o enamel tem um timbre algo mais nervoso, irregular e sujo que o polysol e o formvar e até que, na mistura, ficou um captador interessante...
O captador do braço é um Kent Armstrong (gosto muito dessa marca: barata e boa) de polysol mas bobinado no padrão clássico vintage da Fender - fio 43AWG, 7,1 k... Antes que perguntem mais detalhes, o braço é Mighty Mite (autorizado Fender), one piece maple, raio 9,5", tarraxas (maravilhosas mas feias) Planet Waves, ponte "lefty" Fender MIM, pots CTS vol e Alpha tone, de 500k. capacitor polipropileno 0,33. 

Bem, vamos às avaliações da dupla que todo mundo curtiu da outra vez: Faraco e Jean :)

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 Jean Andrade

        Testei-a comparando com minha Fender Telecaster American Vintage 52, com corpo de Ash e braço e escala em uma peça de maple. Além disso, embora eu não esteja mais com a tele de Pinho, tenho ainda presente na memória algumas das características desta também. Infelizmente, para fazer o rápido vídeo, não lembrava quais configurações de volume e equalização que utilizei no Fender Deluxe Reverb e nos pedais. Minha impressão é que toquei em volume mais baixo na Timburi.

         Desligada, a Timburi soou aberta e ressonante, mais próxima à RI52 do que a Pinho se mostrou no teste anterior, mas também com um pouco menos daquela firmeza característica da RI52. Me pareceu mais firme e menos macia que a Pinho, portanto, mais na onda da tele tradicional. O “feeling”, desligada, tá entre uma tele e uma strato, um pouco mais pra tele.

         Plugada, ela soou muito mais como uma tele tradicional do que a Pinho. O captador do braço abafado como normalmente nas teles tradicionais (mais abafado que a da RI52, que agora é um Dimarzio Twang King, mais aberto que o original). A posição do meio também é tipicamente de tele, com aquele timbre lindo para bases. E na posição da ponte também, tele bem tradicional, com a diferença que a RI52 tem ainda mais agudos nas cordas, acredito que por conta da inversão da posição do captador da ponte na Timburi.

         Portanto, na minha percepção, essa Timburi está consideravelmente mais perto de uma tele tradicional do que a Pinho se mostrou. Contudo, não se deve esquecer a importância de considerar as diferenças do conjunto (braço, ponte, captadores, hardware). A Pinho apresenta timbres mais equilibrados, tanto clean quanto drive/distorção e, portanto, não soa como uma tele tradicional. Não há na Pinho uma diferença brutal entre o abafado do captador do braço e o agudo desenfreado do captador da ponte, como há nas teles tradicionais e como também está presente na Timburi, embora em menor escala, provavelmente pela inversão da posição do captador da ponte.

         Em resumo, o Timburi me pareceu uma ótima opção para quem quer uma sonoridade clássica, de tele tradicional, em contraposição ao pinho, que me pareceu mais macio e, portanto, indicado para uma tele mais versátil e equilibrada, mais na onda das strato. Reitero que, pela quantidade de variáveis, é difícil definir a atuação do corpo de timburi (bem como do pinho) nessa equação, mas ao final minha impressão é que, aos puristas, o timburi tende a ser bem convincente para os timbres de tele tradicional.
Ou seja, outra madeira de boa qualidade acessível, com ótimos resultados.


Vídeo: Fender Deluxe Reverb, Boss OD-3, Boss CH-1, BOG Deep Trip

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Miguel Faraco

 ...Mais uma vez o meu amigo Paulo May me pediu para testar e dar uma pequena opinião. Agora, sobre a tele de Timburi, uma madeira cuja densidade está entre o Alder e Ash.
Peguei a guitarra e à primeira vista achei com uma ação um pouquinho alta, que não é ruim, as cordas vibram melhor mas... Eu gosto de ação mais baixa... Bem, adiante:
 

        Eu tenho uma mania: testar as guitarras que são do meu interesse não como a maioria faz, plugando num ampli e tocando com ela limpa ou com um drivezinho. Eu só consigo sentir as frequências da madeira com uma banda tocando junto normalmente, como numa apresentação ou num ensaio. Ou seja, com altos volumes normais que uma banda faz. Somente assim eu claramente consigo perceber e definir algumas frequências que se sobressaem (ou o oposto). Não sei se é o correto mas me fidelizei assim, fazer o quê né... :)
Bom levei a guitarra para o ensaio da minha banda e toquei com som limpo, drives de baixo ganho e de alto ganho.


         À principio a guitarra soa bem clara, "estaladinha" mas bem definida. Não estou dizendo que é mais aguda ou que sobra alguma frequência mais aguda, mas somente que soa um pouco menos grave. Achei o ataque das cordas graves um pouquinho comprimido, como se tivesse um muito discretíssimo slow volume - diria que um tipo de limiter/compressor  - efeito esse que eu sinto em les pauls gibson. Isso eu senti em todas a posições dos captadores e quer dizer o que?... Aparentemente nada de importante. Nas musicas do Pink Floyd realmente ela soa mais magra que as stratos. Nota-se claramente isso e, óbvio, estamos acostumados com as stratos das gravações originais, por isso ela soou diferente, mas eu gostei muito. Apesar de gostar de guitarras um pouco mais fechadas, ela é clara e tem sustain - isso é muito positivo pra mim.

        Mas... daí o que me surpreendeu foi quando eu toquei uns Zeppelins - putz!  Alvíssaras,  alvíssaras... :) A coisa esquentou. Nunca consegui o timbre mágico do Jimmy Page do disco Houses of The  Holy, nas músicas The Song Remains the Same e Dancing Days - é um timbre mais agudo, com sustain, discreto drive porém com peso. E eu já testei com Les Paul Gibson, SG, ... Mas essa telecaster de Timburi ficou muito parecida com as frequências que eu queria - o que me levou a pensar naquela "compressão" que eu falava acima. Tinha uma discreta característica de guitarras feitas de Mogno já que à principio parece que Jimmy Page gravou essas músicas com uma double neck Gibson e telecaster, mas a  guitarra de Timburi não deixa nada a desejar. Sinceramente eu gostei muito dessa característica e ademais é bom lembrar que são experimentos com madeiras brasileiras ou seja, podemos sim utilizar outros tipos diferentes de madeiras além das que estamos acostumados... 

Muy bueno, muy bueno :)

(o Faraco não teve tempo de gravar com qualidade porque era ensaio, correria e tal, mas me enviou um vídeo de celular que alguém captou na hora - dei uma equalizada pra compensar e, embora o áudio esteja longe do ideal, dá pra ter uma ideia da resposta dinâmica e sustain da tele de timburi. Segue o vídeo:)



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        Quanto à minha opinião, volto a afirmar o que disse naquele primeiro post: eu tenho mais de 10 teles, várias madeiras, e pelo menos 3 delas - duas de ash e uma de alder que são fantásticas.
Gostei muito da tele de timburi - arrisco a dizer que é uma das melhores madeiras que já toquei - alder e ash incluídos. Mas, como mesmo madeiras da mesma espécie - e até da mesma árvore - podem variar, precisamos de mais teles de timburi pra confirmar isso...

         O meu gosto pra timbres é um pouco peculiar - embora o critério mais importante de julgamento seja o equilíbrio das frequências, prefiro as guitarras com maior amplitude e variação dinâmica e principalmente com sonoridade mais "aberta", com poucos graves. Timbre claro, definido, com complexidade e equilíbrio harmônico e graves presentes, mas definidos e "secos". Tive sorte com os meus amigos Faraco e Jean porque ambos geralmente preferem guitarras um pouco mais "warm", macias, não tão abertas. Já o gosto do Oscar eu colocaria como um meio termo entre nós três. Se ele tivesse tempo pra testar também, seria perfeito - uma guitarra que passasse pelo crivo dos quatro com certeza agradaria 95% dos guitarristas :)

         Não sei se é por causa da minha preferência e/ou longa experiência com teles, mas cheguei num ponto onde, para os meus ouvidos, TODAS soam diferentes! Todas soam genericamente como telecaster, mas é nos detalhes, principalmente na coloração e extensão dos médios e definição dos graves, que eu ouço as diferenças. Além do mais, som de telecaster clássico "mesmo", nem sei se é uma unanimidade...

        Há tempos postei um vídeo com uma edição de vários timbres "clássicos" de tele. Todos lindos, todos inesquecíveis. Pra quem não viu, segue abaixo:


Telecaster Timburi

quinta-feira, 22 de junho de 2017

Strato de Caroba e Tele de Pinho: testes e opiniões

Paulo May



(obs: antes de fazer perguntas e ou postar comentários, leia aqui: CLIQUE)



ADENDO 27/06/17: De tanto que o Jean insistiu, acabei descobrindo que não existe a madeira "GAROPA". Todo esse tempo estávamos referindo-nos - agora com 99% de certeza - à madeira CAROBA. Dessa vez eu vou pegar no pé do Kaiser, porque foi ele quem mencionou o nome errado pra mim quando encomendei a tele de pinho. Não chequei e deu no que deu - quase 3 posts falando "GAROPA". Eu e vocês!! KKK!
Bem, em se tratando de Brasil, o que não falta é sinônimos para madeiras... Parece que cada região gosta de ter seu próprio nome... O Jatobá tem mais de 50 sinônimos... Quem sabe sem querer inventamos um novo para a Caroba? :))
Agora vou ter que editar todos os textos... Trabalhão danado... Se amanhã alguém perceber alguma palavra garopa que não foi trocada por caroba, me avise :)

           Conforme prometido no post anterior e já bastante aguardado, o post de hoje tem as opiniões e considerações de dois grandes amigos meus, o Jean Andrade e o (Miguel) Faraco. Ambos excelentes guitarristas, com excelentes equipamentos e, o mais importante - excelentes ouvidos :)
 O Faraco toca desde os anos 70 e atualmente, numa banda de cover (dos anos 70, ppte Pink Floyd e Zeppelin) muito famosa no estado, o "IMMIGRANT".
O Jean também tá na ativa com sua banda "VÁLVULA 4". São dois dos poucos amigos que me deixam feliz quando aparecem aqui em casa. Ambos têm equipamentos de dar inveja a qualquer um e, assim como eu e o Oscar, sofrem de GAS (Gear Acquisition Syndrome) incurável, hehehe.

Pois bem, de certa forma eu conheço o gosto deles (Oscar incluído) em relação à timbres e justamente por isso pedi que avaliassem as guitarras. O meu gosto definitivamente não é o padrão, já que eu prefiro guitarras bem "abertas" e dinâmicas e detesto sobras de agudo e graves soltos demais - se eu postasse apenas a minha opinião, contaminaria a conclusão de vocês com um viés muito perigoso, KKK! 

A ideia aqui era apenas transcrever a opinião deles e posteriormente eu produziria um vídeo/áudio com uma demos das duas, mas o Jean me enviou dois vídeos que, embora gravados com o celular, dão uma ideia muito aproximada de como elas soam. Acabei incorporando-os ao post, no final.
Vamos às considerações, então:

FARACO


         É complicado fazer uma análise das guitarras pois devido às modificações não tive muito como comparar, já que as minhas não são hardtail strat. De qualquer forma, eu fui comparando com as que tenho... Usei o Fender Pro Junior, limpo e alternando um Ibanez TS 808 Keeley Mod nas duas guitarras clean e drive low-gain. Usei também o Fender Super Sonic Twin de 100w com um DG-2 Drive gate da Toptone  e SP Compressor Xotic Effects,  clean e drive Hi-Gain.
 
STRAT HARDTAIL de CAROBA:

É sem duvida um pouco mais brilhante nas frequências médias e agudas mas de maneira nenhuma aquele agudo ardido - estou comparando com as minhas e com o meu gosto - fiquei também impressionado com a clareza das notas nos graves, achei a resposta dinâmica dela bem mais rápida, que é muito bom, deve ser da madeira ou da ponte ou da soma..... Às vezes parece que soa como um híbrido de tele com strat porém com mais definição em comparação com as minhas que são de Ash e Alder. 

De qualquer maneira, eu gostei bastante. Com distorção hi-gain, ela é um pouquinho mais ardida e também ruidosa, claro, como todas as strats single, aparecendo mais as frequências altas. Achei o timbre muito parecido com aquela guitarra do meu irmão, a Fender CS 56 Closet Classic (assunto de um post seu), o que é uma coisa muito boa por sinal...

Agora vamos à TELE de PINHO:  

O que posso dizer...... QUERES VENDER? :) ... A Tele é fantástica. Ou as minhas teles são umas merdas ou as cordas delas estão velhas - e olha que eu comecei a dar importância para teles de uns 4 a 5 anos para cá... 

Essa inversão do captador é muito legal, deixa a corda mi aguda mais na cara e diminui o peso dos graves nos bordões. Ficou muito bem balanceado e corrige um defeito da maioria das teles que conheço, inclusive as minhas. 

O que me deixou muito impressionado é também o som das posições dos captadores, todos, mas principalmente do grave/braço quando você usa um drive low-gain... Cara, as definições das frequências são magníficas. 

Também achei a resposta dinâmica bem mais rápida do que as teles que tenho aqui.  
Nas distorções pesadas os agudos são mais fechados, como eu gosto, destacando mais as frequências médias.
De qualquer forma, eu gostei dela em todos os sentidos - desde o bom gosto da cor, do relic, do visual e principalmente o som.
Abraço!
Faraco. 

JEAN ANDRADE

 

         Como fui o último a pegar as guitarras e sabendo da ansiedade dos leitores do blog (inclusive a minha) para conhecer os resultados, fiquei apenas 7 dias com elas, ainda assim sem muito tempo para testá-las adequadamente em diferentes situações. Acabei plugando-as em casa, em volume baixo a médio, em três dias alternados, cerca de 30 minutos cada dia, para tentar chegar a uma conclusão que, por eu não ser um guitarrista tão experiente quanto o Paulo e o Faraco, considero meus “10 centavos” de contribuição das impressões sobre as guitarras.

          A primeira coisa que eu tinha em mente ao tentar analisar os sons são as muitas variáveis envolvidas além do corpo da guitarra, como braço, escala, captadores, calibre das cordas etc. Ou seja, tudo isso deve ser considerado antes de “julgar” o tipo de madeira do corpo. Além disso, não tive experiências suficientes para poder falar das outras madeiras nacionais, como cedro, marupá e freijó. As minhas bases para comparação são as Fender Strato e Tele que eu tenho e as que já tive. Especificamente pra esse teste, comparei com uma Tele Fender RI52 de Ash/maple/maple e uma Strato Fender RI62 de Alder/maple/rosewood.

TELE PINHO:
        Testei-a comparando com minha Fender Telecaster American Vintage 52, com corpo de Ash e braço e escala em uma peça de maple.


Desligada, a Pinho soou aberta, responsiva e ressonante, porém menos ressonante que a RI52, e também com menos firmeza, definição e sustain. Penso que, além da diferença entre o corpo de pinho e o de ash, isso se deve também à diferença de calibre de cordas (010 na RI52 e 009 na pinho), à escala mais reta (quase 14") e com trastes jumbo na Pinho, em relação à escala curva (7.25") e trastes pequenos da RI52. A Pinho é mais solta e macia, a tocabilidade me pareceu mais próxima à minha Gibson ES-339 do que à Tele RI52.

         Plugada, a coisa mudou. Possivelmente pelos captadores escolhidos pelo Paulo, e pela posição invertida do captador da ponte, virou uma Tele roqueira! Apesar de plugada a Pinho continuar sem a mesma definição de cordas nos acordes que a 52 tem, ela apresenta timbres muito interessantes, equilibrados, tanto clean quanto drive/distorção. Não houve nenhuma posição da chave de captadores que não tenha soado bem, sendo que a posição meio (ambos os captadores em paralelo) foi a que pareceu mais com uma tele tradicional. 

O captador do braço não soou nada abafado como em algumas teles, sendo tranquilamente utilizado com drives mais fortes sem embolar (embola um pouco com fuzz, o que é normal e às vezes até é o objetivo de quem usa esse pedal). Minha impressão foi como som de captador de braço de uma strato, mas com mais punch. O captador da ponte, um Rosar Vintage Hot T, é rock na veia!!! Afasta-se um pouco da característica tradicional da ponte da tele (country music) e entra na seara do rock’n’roll, sendo que com drive chega a lembrar um P90. 

Ou seja, a guitarra é muito versátil, as três posições de captadores muito equilibradas entre si, possivelmente ajudadas pela posição invertida na ponte.

          Em conclusão, achei uma ótima Tele, que mantém boa parte da sonoridade clássica, mas com diferenças que a deixaram muito versátil e pronta para o rock! Difícil definir a atuação do corpo de pinho nessa equação, mas ao final minha impressão é que, aos puristas, pode soar um pouco macio pra quem quer um som de tele tradicional, aquele som “apertado” e responsivo. Mas ainda assim conseguiu manter uma boa dose de twang.

STRATO
CAROBA:
         A Strato é o meu estilo de guitarra preferido, a minha escolha natural na hora de tocar. Já tive várias e me sinto muito mais à vontade para falar desse modelo do que da Tele. Essa guitarra de Caroba (nem sabia que existia essa madeira) realmente me surpreendeu. Primeiro pela leveza... é muito confortável tocar uma strato leve, isso sempre é um dos pontos que eu considero ao adquirir uma. Mas a boa impressão não ficou só quanto ao peso. Ao tocar, percebi que esse corpo parece ser uma ótima opção para a construção de uma boa strato, já que proporciona aquela “intenção” que torna a strato uma guitarra facilmente reconhecível aos ouvidos.

         Desplugada, ela tem uma ótima ressonância, definição e sustain (talvez ajudada pelo fato de ser hardtail) e mantém as características típicas das strato de alder e ash com escala de maple. Plugada, com a ajuda dos captadores de baixa saída, me lembrou MUITO uma uma Reedição 72 japonesa que eu tinha até ano passado e gostava muito. Era uma guitarra construída na FujiGen em 1985, com corpo de Ash e braço e escala em peça única de maple, com captadores de saída bem baixa. Essa Strato Garopa soa muito próximo àquela guitarra, com mais graves que as de alder/maple/maple (sem embolar nos drives) e um bom “quack” nas posições intermediárias. Ótima pra emular os sons da Black Strat do Gilmour. Não fosse o fato de ser hardtail (ponte móvel me faz falta na strato) e eu iria encher o saco do Paulo para negociar essa guitarra comigo...hehe.

        Em conclusão, sobre as duas guitarras, mesmo eu tendo gostado bastante delas em comparação às Fender RI Americanas, tenho a dizer que não acho justa a comparação entre as guitarras, por suas várias características diferentes, assim como suas diferentes aplicações. No caso específico dessas guitarras testadas, vale aquela velha máxima: “não é melhor nem pior, é diferente”. Nitidamente, consigo perceber situações em que a Tele de Pinho do teste se aplicaria melhor que a Fender Tele RI 52, o mesmo ocorrendo entre a Strato de Garopa em relação à Fender Strato RI 62.

        Dessa forma, fiquei feliz em constatar que há bem perto de nós madeiras de boa qualidade e acessíveis para construir ótimas guitarras, com características suficientes para atingir uma sonoridade clássica, sem precisar importar e/ou pagar mais caro por madeiras já consagradas.

Agradeço ao Paulo pela honra de contribuir com o Blog e pela oportunidade de testar as guitarras. Abraços a todos!

Jean Andrade


PS: Equipamento usado pelo Jean:
Amp Fender Deluxe Reverb com falante Jensen 12" de alnico, 
Pedais: Strymon Timeline, TS-808, Boss OD-3, Boss CH-1 Super Chorus,  Deep Trip BOG Fuzz.





 Stratocaster de Caroba




 Telecaster de Pinho


Então? Já deu pra ter uma ideia? :)
As minhas impressões...hum... Já faz um tempinho que testei..., talvez por eu ter tantas teles, com tantos timbres diferentes... Eu preciso rever... Amanhã se der tempo, plugo as guitarras e volto aqui no post.
De qualquer forma, a strato de caroba me lembro de ter comparado direto com uma Strato Robert Cray (alder, hardtail)  e a caroba me pareceu um pouco mais macia e com graves algo mais evidentes - o que me fez pensar numa maior similaridade da caroba com o ash (ppte o swamp) e não o alder.
A tele de pinho também soou um pouco mais macia que as duas de alder pesado e muito parecida com a KNE de alder bem leve. Assim como o Faraco e o Jean, também gostei da forma como ela reage às saturações - bem definida e nervosa.
Acho que a conclusão final do Jean e a inicial do Faraco é que deveriam ser o ponto chave aqui: tanto o pinho quanto a garopa têm sua própria sonoridade/identidade. É importante ressaltar que ambas se mostraram muito equilibradas - e é isso que mais pesa no final das contas, não é? :)
Pra quem consegue ler nas entrelinhas, o Faraco pareou a strato de caroba com uma Fender Custom Shop 56 Closet Classic e o Jean com uma Fender Japan 85 de ash que ele gostava muito. E ambos acharam a tele muito versátil e ideal pra encarar rock and roll ao vivo...


Lembro que o braço participa - e muito - do timbre final. Eventualmente, se eu mudar os braços, complementaremos as impressões.

Lembro também que a ponte da strato é fixa (hardtail) - isso influencia bastante no timbre - e o captador da tele está com o ângulo invertido - já postamos sobre isso.

Os captadores da strato são: braço e ponte: Rosar Fullerton. Meio: Wilkinson WVSM - A5 6,4k com polaridades invertidas. O Sérgio Rosar, pra manter a fidelidade "vintage",  não faz o Fullerton do meio invertido e eu queria aquele "quack" específico das posições de meio, então nessa guitarra o padrão é "moderno". Interessante que em algumas stratos isso não fica legal... Nessa ficou :)

Captadores da Tele: Ponte: Rosar Vintage Hot T - selo ouro LPG e o meu preferido ontem, hoje e sempre, hehehe. Eu pedi para o Sérgio modificar esse V-Hot T: é uma versão custom com alnico II na quinta e sexta cordas e alnico V nas demais. O alnico II reproduz os graves de forma mais definida e seca ("Tight lows", para os americanos). Somando com a inclinação invertida, temos o supra sumo do equilíbrio na ponte de uma tele. O que já era bom ficou ainda melhor! Não é à toa que nós 3 achamos o timbre roqueiro dessa tele fantástico!
Captador do Braço: chinês (sim, chinês) genérico modificado com pinos de alnico V. Eu tenho (e já tive) vários captadores de braço de tele e, com exceção do da minha Fender 68, não gosto/gostei de quase nenhum deles - inclusive o twisted tele da própria Fender. Todos muito abafados e sem graça... Descobri há algum tempo que, no caso desses captadores, a "baixa qualidade" da manufatura chinesa acaba sendo útil: por comodidade e economia, eles usam (geralmente, nunca dá pra saber antes) fio AWG 42 e não 43 e as bobinas via de regra são alguns milímetros mais altas, ou seja, fica muito parecido com um captador de strato, que é mais aberto. Basta tirar aquela barra cerâmica horrível e colocar pinos de alnico 5 e parece mágica: de cada quatro, pelo menos dois soam muito, muito bem. Na minha opinião, superiores aos tradicionais vintage, com fio 43 (e alguns ainda com o insosso alnico III). De quebra, os chineses ainda economizam na parafinação - deixam pouco tempo no banho e já sabemos que, quanto menos parafina, mais aberto o captador (mais ruído também, but who cares?)... É um típico caso de "quanto pior, melhor", hehehe. Esses captadores chineses não custam mais do que 15 dólares.

No mais, pra finalizar, eu quero agradecer também publicamente ao Faraco e ao Jean pela ajuda e empenho. Sem eles, esse post não sairia.